Pular para o conteúdo principal

Postagens

Bem-vindo ao DILEMA!

O DILEMA – Diretório de Instrução e Letras Maçônicas é um espaço dedicado à reflexão, ao estudo crítico e à troca de ideias sobre a Maçonaria. Seu nome carrega um duplo sentido: é um acrônimo que remete à organização dos conteúdos e, ao mesmo tempo, simboliza o dilema constante do maçom moderno diante da abundância de informações — nem todas confiáveis, nem todas construtivas. Este projeto não se propõe a ser uma autoridade ou tribunal de verdades maçônicas. Pelo contrário: nasce do interesse genuíno de um irmão entusiasta pela tradição, pela simbologia e pela história da Maçonaria, que decidiu reunir e compartilhar conteúdos que provoquem pensamento, diálogo e amadurecimento. Aqui você encontrará temas clássicos e contemporâneos, apresentados de forma acessível, sempre com o cuidado de estimular o leitor a buscar por si mesmo — com espírito crítico, rigor e respeito à diversidade de visões dentro da Ordem. Mais do que respostas prontas, o DILEMA oferece perguntas bem feitas.
Postagens recentes

O MANUSCRITO COOKE (1410) - EM PORTUGUÊS

O Manuscrito Cooke é um dos mais antigos e importantes documentos da Maçonaria operativa, datado de cerca de 1410 e atualmente preservado no acervo da Biblioteca Britânica, em Londres. Diferentemente do Regius, seu predecessor em antiguidade, o Cooke é redigido em forma de uma longa narrativa em prosa. O manuscrito original é composto por 68 páginas em pergaminho, medindo aproximadamente 3,32 por 4,68 polegadas. Pelo estilo, estrutura e conteúdo, acredita-se que tenha sido escrito por vários autores — possivelmente clérigos — e que tenha incorporado trechos de documentos ainda mais antigos. O texto combina uma narrativa lendária sobre as origens da Geometria e da arte da Maçonaria com um conjunto de “artigos” e “pontos” que regulavam a conduta dos pedreiros medievais. Sua relevância histórica é enorme, pois oferece um raro vislumbre dos primeiros códigos morais, organizacionais e profissionais da fraternidade maçônica antes do advento da Maçonaria especulativa. Não por acaso, ao elabor...

TEMPERANÇA: A VIRTUDE MAIS IMPORTANTE PARA O APRENDIZ

 O livro Moral e Dogma, de Albert Pike, é uma extensa obra que traz ensinamentos sobre quase todos os graus do Rito Escocês Antigo e Aceito (apenas o 33° não está incluído). Recentemente, estive lendo o primeiro capítulo, dedicado ao grau de Aprendiz, e logo no início o texto traz uma reflexão interessante sobre o papel do intelecto diante da força. Pike compara a força desregulada com o gigante Polifemo, cego, golpeando a esmo, precipitando-se entre as rochas afiadas pelo ímpeto de seus próprios golpes. Isto quer dizer que a força, quando movida apenas pelo impulso, não resulta em crescimento ou progresso. Por isso ela deve ser guiada, precisa ter um cérebro e uma lei. Sendo regulada pelo intelecto e pelo pensamento, a força então se torna capaz de produzir o aprimoramento do ser humano. A Maçonaria oferece a todo iniciado essas duas ferramentas essenciais de aprimoramento interior. O maço, ferramenta operativa semelhante a um martelo, é a primeira delas, e representa a força de v...

DIFERENÇA ENTRE POTÊNCIA E OBEDIÊNCIA MAÇÔNICA

 Toda Potência é uma Obediência, mas nem toda Obediência é uma Potência. As frases são parecidas e parecem sinônimos, mas dizem coisas diferentes. O entendimento dessas diferenças nos ajuda a compreender como a Maçonaria se organiza e se estrutura. Segundo o Dicionário Aurélio, essas palavras têm, dentre outros, os seguintes significados: Potência - qualidade de potente, que tem poder, força; Poder atribuído a alguém que faz com que esta pessoa tenha autoridade ou exerça o poderio que lhe foi dado; domínio. Obediência - ação de quem obedece, de quem é submisso; Disposição para obedecer; Ato pelo qual alguém se conforma com ordens recebidas. A partir daí já pode-se inferir que Potência é quem manda, e Obediência é quem segue. Entretanto, na Maçonaria esses termos são usados de modo mais técnico e particular. Vejamos. Toda Potência é uma Obediência Na Maçonaria, uma Potência Maçônica é uma organização que tem soberania própria. Isso quer dizer que ela tem autoridade para fundar lojas...

ENTENDENDO OS TRÊS TIPOS DE MAÇONS NA VISÃO DE VAROLI FILHO

A Maçonaria é uma escola de construção moral, social e espiritual. Mas, mesmo entre seus membros, existem diferentes formas de enxergar e viver a Ordem. No Capítulo III do livro Curso de Maçonaria Simbólica – Aprendiz (Tomo I) , o autor Theobaldo Varoli Filho apresenta três perfis bastante distintos de maçons: os místicos sérios, os mistificadores e os autênticos. Varoli desenvolve essas classificações em sua obra, e elas nos ajudam a refletir com mais clareza sobre o caminho que escolhemos dentro da Maçonaria. O que propomos aqui não é julgar ninguém, mas estimular reflexões para que cada irmão possa se observar sobre que tipo de maçom é. Vamos entender melhor o que caracteriza cada tipo. Místicos Sérios São aqueles irmãos que olham para as lendas maçônicas com respeito e encanto, mas também com consciência. Sabem que elas não precisam ser verdadeiras no sentido literal para serem valiosas. A beleza dos símbolos, a profundidade dos rituais e o valor filosófico das tradições antigas sã...

O BODE NA MAÇONARIA

Confesso que quanto mais estudo tentando encontrar o tal do “bode na Maçonaria”, mais ele escapa feito um animal arisco, se esquivando e desaparecendo, deixando somente um rastro de lendas e mitos. Existem muitas histórias que tentam explicar a relação entre o bode e a Maçonaria, mas o intuito aqui não é fazer juízo sobre qual delas é legítima (na verdade, suspeito que nenhuma seja). Ao contrário do que insistem muitos panfletos antimaçônicos, manifestações de igrejas, discursos de padres e pastores fanáticos e “causos” da internet, a história de que os maçons utilizam ou adoram bodes em suas sessões não passa de uma fantasia popular. Mesmo assim, o animal se tornou um dos mitos mais duradouros em torno da Maçonaria, mas, curiosamente, os próprios maçons o transformaram em motivo de deboche e brincadeira. Convém iniciar pelo cenário mais remoto, que remonta ao Yom Kippur do Israel antigo. No livro de Levítico 16, é descrita uma prática em que sorteavam-se dois bodes, sendo o primeiro d...

VOCÊ SABE QUEM É?

Tem um ditado que ouço sempre na minha Loja: “ A Maçonaria não é hospital. Gente ruim não entra para sair boa. Ela transforma homens bons em homens melhores. ” E refletindo sobre isso, me ocorreu que a transformação maçônica não começa com ferramentas, mas com silêncio. No livro Pedra por Pedra , do irmão Francisco Pucci, há um trecho onde ele discorre sobre um tema que me pegou em cheio: a diferença entre individualização e individuação . E não, não é só jogo de palavras. A individualização é esse apelo moderno para sermos “únicos”. Diferentões. Inovadores. Originais. Mas no fundo… é tudo meio igual. Um monte de gente tentando parecer especial do mesmo jeito. Aquela coisa de querer se destacar e, sem perceber, acabar sendo só mais um na multidão. Como Pucci disse, parece que o mundo inteiro diz: “seja diferente, torne-se um igual”. Já a individuação, aí é outra história. É um caminho mais interno. Não tem a ver com status, com carreira, com curtidas. Tem a ver com se descobrir. Com s...

A MAÇONARIA, A IGNORÂNCIA E O EFEITO DUNNING-KRUGER

Existe um aforismo bastante conhecido na Maçonaria que diz: “ Ignorância é nada saber, saber mal o que se sabe e saber coisas além do que se deve saber. ” À primeira vista, parece apenas mais uma frase de sabedoria, dessas que a gente lê e segue em frente. Mas, quando paramos e refletimos bem sobre estas palavras, percebemos que há ali um aviso poderoso. O verdadeiro problema não é simplesmente a ignorância. É algo mais sorrateiro: a falsa sensação de que sabemos mais do que de fato sabemos. É o conforto enganoso da certeza. E veja só: esse mesmo tema, com outra roupagem, foi desvendado há alguns anos pela psicologia: é o chamado Efeito Dunning-Kruger . Em 1999, dois psicólogos — David Dunning e Justin Kruger — resolveram investigar algo curioso: será que as pessoas sabem medir o quanto realmente sabem? Eles aplicaram testes relativamente simples em estudantes universitários. Coisas como lógica, gramática, interpretação de texto. Depois, pediram que cada aluno estimasse o próprio desem...