O livro Moral e Dogma, de Albert Pike, é uma extensa obra que traz ensinamentos sobre quase todos os graus do Rito Escocês Antigo e Aceito (apenas o 33° não está incluído). Recentemente, estive lendo o primeiro capítulo, dedicado ao grau de Aprendiz, e logo no início o texto traz uma reflexão interessante sobre o papel do intelecto diante da força. Pike compara a força desregulada com o gigante Polifemo, cego, golpeando a esmo, precipitando-se entre as rochas afiadas pelo ímpeto de seus próprios golpes. Isto quer dizer que a força, quando movida apenas pelo impulso, não resulta em crescimento ou progresso. Por isso ela deve ser guiada, precisa ter um cérebro e uma lei. Sendo regulada pelo intelecto e pelo pensamento, a força então se torna capaz de produzir o aprimoramento do ser humano.
A Maçonaria oferece a todo iniciado essas duas ferramentas essenciais de aprimoramento interior. O maço, ferramenta operativa semelhante a um martelo, é a primeira delas, e representa a força de vontade, a coragem e o impulso de mudança. O cinzel, por sua vez, representa o intelecto, a razão, a inteligência e o método. Com essas duas ferramentas em mãos, o Aprendiz Maçom deve compreender que apenas o desejo de melhorar não é o suficiente, a força por si só não é o suficiente. É necessário saber qual região da pedra desbastar, saber como e com que intensidade golpear sua pedra bruta.
Cada um de nós traz consigo uma pedra cheia de arestas que evitamos desbastar. Um exemplo muito comum é o cuidado com a própria saúde. Quantos sabem que precisam mudar seus hábitos, comer melhor, evitar álcool, praticar exercícios, mas continuam adiando essa transformação? Sabem que o problema existe, mas não o enfrentam. Têm a vontade de mudar, ou seja, o maço está ali. Mas não tomam a decisão para agir no ponto certo, isto é, falta o cinzel. Sem o cinzel a força se dispersa, fica no sofá vendo TV.
Nesse sentido, cabe uma pergunta: é mais difícil bater com o maço ou manejar o cinzel? Às vezes não dispomos de uma das ferramentas. Em outras temos ambas, mas simplesmente não as usamos. O maço transforma pela força e o cinzel pela precisão. Temos que levantar o maço e golpear no ponto certo, senão seremos como o Polifemo citado por Pike, cego, golpeando a esmo.
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