O Painel do Grau de Aprendiz, especialmente no contexto do Rito Escocês Antigo e Aceito (REAA) praticado pelo Grande Oriente do Brasil, transcende sua aparente função decorativa. Muito mais do que um simples quadro, ele é um guia silencioso e permanente que expressa visualmente os ensinamentos fundamentais transmitidos ao aprendiz maçom. Cada símbolo ali colocado possui uma função específica, direcionada ao desenvolvimento ético, espiritual e intelectual dos iniciados. Assim, o estudo aprofundado desses símbolos é uma jornada constante de autoconhecimento e evolução pessoal.
O Painel do Grau de Aprendiz sintetiza simbolicamente os ensinamentos que um maçom iniciante precisa compreender ao longo de sua jornada. Sempre presente nas lojas maçônicas, ele não apenas decora, mas instrui silenciosamente todos que o contemplam. Paulo Hernandes afirma que sua origem remonta às antigas tradições em que os símbolos eram riscados no chão das oficinas maçônicas, servindo como uma orientação visual e constante.
![]() |
Painel do Grau de Aprendiz do REAA do GOB |
As Colunas e as Romãs — as colunas B e J simbolizam os dois pilares solsticiais, indicando limites entre o profano e o iniciático, remetendo aos solstícios de verão e inverno, que são pontos essenciais no calendário astronômico e simbólico maçônico. As romãs, cuidadosamente abertas e dispostas sobre essas colunas, representam a fraternidade maçônica universal, com sementes que, embora independentes, dependem umas das outras para formar o fruto, refletindo a união e a cooperação necessárias entre os maçons em todo o mundo.
O Pórtico e o Delta — O pórtico do templo, antecedido por três degraus, é um marco simbólico crucial que indica a passagem das trevas do desconhecimento para a iluminação do saber maçônico. Cada degrau remete a uma virtude específica — compromisso, disciplina e perseverança — fundamentais para a caminhada maçônica. O Delta Luminoso com o olho esquerdo no seu interior simboliza a presença constante e transcendental do Grande Arquiteto do Universo, representando a vigilância espiritual e ética constante a que todos estão sujeitos.
A Pedra Bruta, o Maço e o Cinzel — esses símbolos expressam o profundo trabalho de transformação pessoal. A pedra bruta é a condição inicial, o estado de ignorância moral e espiritual que caracteriza o ser humano antes da iniciação maçônica. O maço simboliza a força de vontade e a energia necessárias para vencer obstáculos e realizar mudanças pessoais. O cinzel representa a capacidade intelectual, o discernimento e a sabedoria que identificam e corrigem imperfeições. Juntos, refletem o trabalho árduo e contínuo do aprendiz sobre si mesmo.
A Pedra Cúbica e a Prancheta — a pedra cúbica é a meta simbólica do maçom, representando um indivíduo plenamente desenvolvido moral e intelectualmente. Possui ângulos retos e superfícies lisas, refletindo um caráter equilibrado e perfeito. A prancheta simboliza o planejamento e a orientação intelectual dos mestres maçons, enfatizando a importância do aprendizado contínuo e estruturado para alcançar o desenvolvimento maçônico desejado.
O Nível e o Prumo — essas ferramentas têm significados éticos essenciais. O nível representa a igualdade fundamental entre os seres humanos, lembrando que todos os maçons são iguais em dignidade e merecedores do mesmo respeito. O prumo simboliza profundidade moral e retidão de caráter, ressaltando a necessidade constante de autocrítica e aperfeiçoamento ético pessoal.
O Esquadro e o Compasso — simbolizam princípios complementares e essenciais na conduta maçônica. O esquadro representa justiça, ética e retidão em todos os atos humanos, enquanto o compasso simboliza moderação, equilíbrio emocional e espiritualidade, lembrando ao maçom a importância de harmonia entre os aspectos materiais e espirituais da vida.
O Sol, a Lua e as Estrelas — o Sol representa a razão, a clareza de pensamento e a liderança necessária em situações diversas. A Lua simboliza a reflexão, introspecção e equilíbrio emocional. As estrelas, dispostas simbolicamente, evocam o conhecimento infinito e a constante busca de aprimoramento pessoal e espiritual que caracteriza a vida maçônica.
As Três Janelas — posicionadas ao sul, simbolizam virtudes fundamentais: sinceridade, coragem e perseverança. A janela oriental simboliza o despertar e o início das ações virtuosas, enquanto a do meio-dia representa a plenitude do esforço e realização. A janela ocidental indica repouso, reflexão e renovação necessária ao processo constante de autodesenvolvimento.
A Corda de Nós e as Borlas — esta corda simboliza a união espiritual e fraternal dos maçons, espalhados universalmente. Os nós representam virtudes e valores essenciais, destacando a necessidade de cooperação constante. As borlas nas extremidades simbolizam justiça e prudência, fundamentais na administração de responsabilidades sociais e maçônicas.
Orla Denteada — Enquadrando o painel, simboliza o amor fraternal e a união que devem prevalecer entre os maçons, ilustrando como cada indivíduo está conectado aos demais por objetivos éticos e humanitários comuns.
Cada símbolo presente no Painel do Grau de Aprendiz tem aplicações práticas para a vida cotidiana do maçom. Esses elementos não são meramente alegóricos, mas propõem uma forma concreta e clara de conduta e reflexão. Ao internalizar esses ensinamentos, o maçom consegue aprimorar sua postura ética, sua capacidade de autoconhecimento e seu papel na sociedade. A observação constante e cuidadosa dos símbolos do painel reforça a responsabilidade individual de aplicar tais ensinamentos na prática diária.
- Que tipo de ensinamento cada símbolo desperta em diferentes momentos da vida?
- Existe algum elemento específico do painel que desperta mais reflexão ou exige maior compreensão?
- Como esses símbolos ajudam a manter vivas as memórias e os compromissos assumidos durante a iniciação?
- Qual mensagem o painel transmite hoje, que talvez não fosse clara anteriormente?
Essas reflexões são essenciais para que o aprendiz não apenas compreenda o significado simbólico dos elementos, mas também incorpore esses ensinamentos em seu cotidiano, aprimorando continuamente sua conduta pessoal e social.
O autor Paulo Hernandes (2024), pág. 70, traz as seguintes questões para reflexão sobre aspectos simbólicos de elementos do Painel do Grau:
- Os grãos das romãs, numerosos e bem juntos na fruta, significam a união dos irmãos. Seu relacionamento como estes contribui para essa união? Você participa de “fofocas” que envenenam esse relacionamento? (...)
- A força e a estabilidade de sua Loja dependem da cooperação de todos. Sua assiduidade aos trabalhos e a pontualidade junto à Tesouraria ajudam essa força e estabilidade?
- Em situações de desacordo ou desentendimento, dentro ou fora da Loja, como você age? Com prudência e moderação ou pronto para as “vias de fato”?
Referências
- Ritual do 1º Grau: Aprendiz Maçom do Rito Escocês Antigo e Aceito. Grande Oriente do Brasil. São Paulo. 2024.
- HERNANDES, Paulo A. O. Curso de Formação de Aprendizes do R∴E∴A∴A∴. 1ª Ed. Londrina: Edito-ra Maçônica A Trolha, 2017.
- HERNANDES, Paulo A. O. Simbologia e Ritualística Maçônicas: Guias para a Conduta do Maçom. 1ª Ed. Londrina: Editora Maçônica A Trolha, 2024.
- JUK, Pedro. Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom. Tomo I. 1ª Ed. Londrina: Editora Maçônica A Trolha, 2007.
- BOUCHER, J. A Simbólica Maçônica. 9ª Ed. São Paulo: Editora Pensamento, 2003.
Comentários
Postar um comentário