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ENTENDENDO OS TRÊS TIPOS DE MAÇONS NA VISÃO DE VAROLI FILHO

A Maçonaria é uma escola de construção moral, social e espiritual. Mas, mesmo entre seus membros, existem diferentes formas de enxergar e viver a Ordem. No Capítulo III do livro Curso de Maçonaria Simbólica – Aprendiz (Tomo I), o autor Theobaldo Varoli Filho apresenta três perfis bastante distintos de maçons: os místicos sérios, os mistificadores e os autênticos.

Varoli desenvolve essas classificações em sua obra, e elas nos ajudam a refletir com mais clareza sobre o caminho que escolhemos dentro da Maçonaria. O que propomos aqui não é julgar ninguém, mas estimular reflexões para que cada irmão possa se observar sobre que tipo de maçom é.

Vamos entender melhor o que caracteriza cada tipo.

Místicos Sérios

São aqueles irmãos que olham para as lendas maçônicas com respeito e encanto, mas também com consciência. Sabem que elas não precisam ser verdadeiras no sentido literal para serem valiosas. A beleza dos símbolos, a profundidade dos rituais e o valor filosófico das tradições antigas são o que mais os inspiram. Eles enxergam nos mitos uma linguagem que fala à alma, e usam isso para se elevar moralmente.

Esses irmãos não estão presos ao passado, pelo contrário, veem o passado como uma fonte de sabedoria simbólica. Não confundem mitologia com história. Eles valorizam o simbolismo e preservam os rituais antigos, mas fazem isso com senso crítico, conscientes de que nem tudo que é tradicional precisa ser aceito sem questionamento.

Mistificadores

Aqui a coisa complica. O mistificador é aquele que ou acredita cegamente em tudo que ouve, ou finge acreditar para parecer mais "iluminado" do que os outros. Ele diz com convicção que a Maçonaria começou com Adão, ou que os maçons construíram as pirâmides, ou que a Ordem guarda segredos perdidos da Atlântida. E mais: não aceita questionamentos. Tudo vira dogma, tudo vira "verdade oculta".

Uma situação comum em muitas Lojas é ver irmãos defendendo com paixão algo que leram em algum livro, afirmando que se "está escrito aqui" ou "li isso naquele autor" então é verdade, como se isso fosse suficiente para tornar uma ideia verdadeira. Mas nem todo livro maçônico é bom. Há muita obra mal escrita, mal pesquisada ou cheia de interpretações fantasiosas. E, infelizmente, muitos irmãos tomam esses textos como verdade absoluta, só porque estão impressos. Esquecem que um livro não é um documento normativo nem uma lei, e que a credibilidade de um autor está na seriedade do seu pensamento.

Na prática, o mistificador atrapalha. Ele desvia a Maçonaria de sua função real e a transforma em um teatro de vaidades esotéricas. É o tipo de irmão que prefere o encantamento ao esclarecimento, a fantasia à razão. Para ele, ser maçom é parecer misterioso, mesmo que muitas vezes falte conteúdo real por trás dessa aparência.

Autênticos

Os autênticos são os que buscam entender a Maçonaria como ela realmente é e como ela pode ser útil no mundo real. Estudam a história da Ordem, confrontam mitos com fatos e tentam separar o que é simbólico do que é histórico. Não negam o valor do símbolo, mas querem compreender sua origem, seu uso e seu propósito.

Esses irmãos são estudiosos, racionais e exigentes. Às vezes podem parecer frios, mas não são. O que buscam é coerência. Sabem que a Maçonaria não precisa de milagres nem mistérios sobrenaturais para ser grandiosa. Basta que ela seja verdadeira, ética e comprometida com a construção do bem comum.

Abaixo, estão listadas algumas comparações que podem ajudar nessa reflexão:

Relação com as lendas:

  • Místicos sérios: Valorizam as lendas como símbolos e ensinamentos filosóficos.
  • Mistificadores: Acreditam (ou fingem acreditar) que as lendas são fatos reais e sagrados.
  • Autênticos: Questionam as lendas; buscam separar o simbólico do histórico.

Postura intelectual:

  • Místicos sérios: Idealistas, inspirados pela beleza ritual e espiritual.
  • Mistificadores: Fantasiosos, crédulos ou manipuladores.
  • Autênticos: Críticos, racionais, estudiosos da história real da Maçonaria.

Relação com a tradição:

  • Místicos sérios: Respeitam a tradição como fonte de significado.
  • Mistificadores: Exageram a tradição, criando mitos falsos.
  • Autênticos: Valorizam a tradição que tem base lógica e histórica.

Exemplos de ideias:

  • Místicos sérios: "A lenda de Hiram representa uma verdade moral."
  • Mistificadores: "Hiram foi realmente morto no Templo de Salomão."
  • Autênticos: "A lenda de Hiram é uma criação simbólica e pedagógica."

Atitude em Loja:

  • Místicos sérios: Buscam elevação interior através dos ritos.
  • Mistificadores: Buscam prestígio, poder ou reconhecimento através do misticismo.
  • Autênticos: Buscam o conhecimento, a ética e a construção social concreta.

Riscos associados:

  • Místicos sérios: Podem cair na ingenuidade se não forem equilibrados.
  • Mistificadores: Podem comprometer a credibilidade da Maçonaria.
  • Autênticos: Podem parecer frios ou "desencantados", mas mantêm o rigor.

Avaliação de Varoli:

  • Místicos sérios: São respeitáveis e úteis quando equilibrados.
  • Mistificadores: Causam confusão e desviam a Maçonaria de sua verdadeira missão.
  • Autênticos: Representam o ideal maçônico a ser seguido, por sua coerência com a razão, a ética e o progresso. Representam o ideal maçônico a ser seguido, por sua coerência com a razão, a ética e o progresso.

Vale lembrar que o próprio Theobaldo Varoli Filho se colocava entre os maçons autênticos e evolucionistas. Ele defendia que a Maçonaria deve caminhar lado a lado com o progresso intelectual e científico, sem abrir mão de seus símbolos, mas também sem se prender a superstições ou tradições infundadas. Para Varoli, a Ordem precisa ser um espaço de razão, ética e ação social concreta.

É claro que ninguém se encaixa perfeitamente em apenas uma dessas colunas. Às vezes, somos um pouco de cada coisa. Em alguns momentos nos deixamos levar pelo encanto das histórias, em outros somos friamente analíticos. Mas o que não podemos perder de vista é o propósito da Ordem: construir, evoluir, servir.

Ser um místico sério não é problema, mas não corra o risco de deixar a fantasia se tornar regra. Ser autêntico não significa ser frio ou insensível. Significa ter compromisso com a verdade e com a razão, sem abrir mão da beleza simbólica que dá alma aos nossos rituais.

Mais do que tentar se encaixar em uma definição, o que importa é ter consciência de como estamos nos comportando dentro da Maçonaria e se isso está contribuindo para nossa evolução pessoal e para o fortalecimento da Maçonaria como um todo.

A reflexão proposta por Varoli nos convida a assumir uma postura mais crítica, mais responsável e mais comprometida com o verdadeiro espírito maçônico: a busca pela verdade, pela justiça e pelo bem comum.

Cada um de nós, ao final, tem a liberdade de trilhar o próprio caminho. Mas essa liberdade também exige um certo grau de maturidade: a de refletir sobre como nossas escolhas e posturas contribuem ou não para aquilo que a Maçonaria propõe como ideal. Além de estar presente em Loja, é preciso estar verdadeiramente envolvido com os valores que nos trouxeram até aqui.

Vale a pena pensar nisso.

Se quiser, compartilhe nos comentários: qual dessas posturas mais se aproxima da sua vivência maçônica? Você se identifica com algum desses perfis? Conhece autores, mestres ou irmãos que exemplificam bem algum dos três tipos descritos por Varoli? A troca de experiências pode enriquecer ainda mais essa reflexão.


M∴M∴ Dyogner do Valle Mildemberger
São José dos Pinhais, 31/05/2025.

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